sábado, 29 de dezembro de 2007

Jardins

fico dezembramente preguiçosa
digo até breve a Primavera,
e tiro as manhãs e as tardes
coloridas do verão, com um céu azul, ora nuvens pesadas
para esquecer a escravidão de todos,
e não a minha... ou a minha também ?
quero colo de mãe, quero o café da manhã posto,
almoço quentinho feito na hora
ficar descalça, andar nos quintais
da Augusta e da Luisa que há tempo me deixaram!
quero um jardim igual aquele da infância;
com margaridas brancas, lírio amarelos,
muitas violetas... e a paz por perto

ou aquele cheio de beijinhos
variando os coloridos das flôres
deixando o chão de terra virar tapete bordado!
e as flôres de maio penduradas nos troncos,
também florindo em outros meses...
o pé de jabuticaba crescendo entre as plantas,
e entre elas, as crianças ...

no quintal da Luisa ,
flôres, bica d'água, mexerica do rio e pé de lima
no quintal da Augusta,
acerola, abacate e laranja lima
em ambos, pé de manga e mãos de mãe
e colo pra crianças doentes
e ouvidos para as dores dos adultos
Luisa avó, Augusta chamada por avó,
querida e amada pelos meus filhos!
em ambos jardins, a paz fez sua morada...

em ambos eu , criança em uma época
adulta em outra, andava de pés no chão
sob o tapete colorido transformados e cuidados
pelas mãos dos poucos e raros amores
de minha vida... grandiosas mulheres
que Deus me presenteou ...
e a minha vida ganhou sabedoria,
simplificou o que sempre foi simples:
criar filhos ou netos,
plantar sementes de maracujá com os pés,
contar histórias de assombração, fazer vestidos de boneca,
ou, ensinar aos netos, andar no cavalinho
dado ao pai das crianças
quando ele, criança...
e me ensinaram, sem dar aulas,
sem nenhuma didática ,
que a paz mora nos jardins construídos pelas nossas mãos,
rodeadas de crianças, rodeadas de flôres
e cheinha de alma feminina,
nos cantos, nas palavras
e nos sofreres calados...
Augusta e Luisa
Quando as perdi, eu e os meus filhos
ficamos pobres de amor...

Um comentário:

Pedro disse...

Adorei o neologismo:
dezembramente perigosa.

Bjs.