segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Labirinto

Quem já perdeu o chão?
Dia comum . Desses em que você vai dormir pensando na rotina pesada do amanhã.Deito e durmo. Amanhã será amanhã. Como todos os amanhãs.
Não foi! Acordo por volta das cinco tentando me encontrar: a parede do quarto gira, a cama gira ...com tanta velocidade que imediatamente entro em pânico! Agarro as laterais do colchão (só alcancei uma) e começo a gritar. Afinal, o que acontece? Um terremoto? Tsunami? furacão? O meu cerebelo e meu labirinto, tinham enlouquecidos. Ou eu ?
Vou dominar isto e reencontrar meu lugar neste planeta. Tento me levantar. Sou arremessada não sei por qual força no meu colchão e a velocidade do giro aumentou. Peço socorro.
Eu me perdi no espaço. Onde estou? Não tenho direção e nem sentido... se a parede parasse , encontraria o chão.
Imagine uma doença horrível que te arremessa no colchão e o todo que te cerca gira até você finalmente perder o sentido.
Perdi o rumo, literalmente...
Começo a peregrinação: serviço de emergência, otorrino, neurologista: "problemas com o seu ouvido médio, canais semicirculares". Tomei remédios que nós profissionais da saúde lidamos com eles todos os dias.
Um sono me levou para "as profundezas do mar sem fim "- como minha filha diz
Eu me desliguei do mundo, me desconectei sem fazer back up, o que era importante desapareceu... Esqueci de salvar, desconfigurou-se. Perdi a senha. Não tenho mais login.
A rotina diária, extenuante, com poderes soberanos sobre o meu corpo e minha mente me dizendo todos os dias que "isso depende de você... você é que precisa estar lá... você deve decidir... ajudar... complementar... elaborar... reunir... decidir..." exibindo superioridade, foi para o espaço.
Quando você está vivendo o vai e vem, a rotina se dá uma falsa importância exuberando o pequeno ou com golpes diários, "arranhadas no coração", ela vai aos poucos te matando. Desta vez, ela foi para o espaço assim como meu corpo e meu cérebro.
Eu voava no pequeno espaço do meu quarto ou era o meu quarto que voava ao redor de mim?Pensei em Freud. Cadê o meu ego? Pensando em ego quando está se perdendo o id!
Pensei em Niezstche "a distância mais curta entre duas montanhas é de cume a cume " Não dou um passo. Não saio da minha cama. Voar? Em círculo ? No mesmo espaço? Vendo as paredes passarem ou eu passando por elas?
Pensei em Leminski - "quem dera eu visse o outro lado, o lado de lá, lado meio, onde o triângulo é quadrado" ou Clarissa Estés- "nunca é errado ir à procura do que necessitamos. Nunca mesmo."
Procuro o meu chão. Necessito dele. Saio à procura. Não o encontro.Não acho o ângulo, nem o lado de lá, o quadrado ora triângulo, gira.
Entro por quinze dias neste estado: ou giro ou bloqueio com os medicamentos todas as minhas sensações e volto para as profundezas do mar, da alma.
Aos poucos reencontro o meu chão, torto, sem arrimo, vazio. Nada de olhar o horizonte. Nem para cima nem para baixo. Tento em centímetros, muito lento.
A lentidão me comove. A vida, em câmara lenta, possibilita observar todos os detalhes...Aqueles nunca antes percebidos .
Ando torta em linhas retas. Perdi o equilíbrio. Estou na corda bamba.
Passo a passo, lentos, como este novo modo de sentir o tempo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

rimas

comprei um guardachuva e nem

choveu

seria porque o meu guardachuva não tem hifen?

escureceu

esperei a chuva e me guardei

não teve sol e nem chuva

casamento de viúva...

ou de espanhol?

daí não teve chuva e nem sol

gostoso brincar com rimas

me deixa leve e sem cismas

terça-feira, 15 de setembro de 2009

ponte

passei por esta ponte

tão estreita

nem medo senti,

nem percebi

a agua que corria

no riacho debaixo dela

esta ponte permite

apenas pé ante pé

nem me desequilibrei

um fio d'agua

sem perigo

nem hesito

já conheço os passos

passo de olhos vendados

setembros

setembros

lembram-me

de jardins de margaridas

e pés de jabuticabas.

as frutas negras, reluzentes

grudadinhas umas as outras.

alguém já viu alguma árvore mais acolhedora do que

uma jaboticabeira?

e um jardim mais singelo

como os de margaridas brancas

de "miolo" amarelo?

as jabiticabas negras e doces

- mel negro-

há sempre uma forquilha em forma de banco,

um colo

pra você se sentar

e se deliciar com estas frutas

tão doces,

uma, depois outra, e outra, mais uma

não tem fim.

e você vai se ajeitando no banco improvisado

que aquela árvore te oferece

estica o braço e apanha mais uma

agora escolhida, no capricho

jabuticabeiras agregam,

margaridas também.

Um tapete bordado : branco e amarelo.

Uma flor bem junta a outra

resplandece aos sóis dos setembros.

As jabuticabas, de flores brancas

tornaram -se frutos negros, doces, licorosos

Redondos e perfeitos.

penso em Deus,

quero uma conversa com Ele.

jabuticabas e margaridas

me colocam perto de Deus

E o perfume desta mistura?

Não há em outros cantos do mundo.

é só aqui, neste país.

Eu e Deus,

enfim um reencontro.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

"feeling"

comemoro a volta do amigo
que deixara de escrever.
Talvez até escrevesse,
e não mais postasse no blog.
ou talvez, passou por um período
de reflexão, buscando um guru...
que nada, ele se encheu
desistiu das palavras
e resolveu tocar um instrumento.
Algo muito nobre
o distanciou das míseras teclinhas do MC
tenho certeza . Foi isso.
Uma grande criação porque este meu amigo é criador.
Ele cria histórias
Desenha as histórias
publica-as.
Nada demais, nem de menos
Foi uma retirada para
refletir, criar, desenhar,
colocar em telas?
fazer show num teatro de arena?
saiu de fininho, sem se despedir
por motivos justos
maiores,
aqueles que mexem com as entranhas.
Coisa de pele
porque a palavra que o define é "feeling"
desde de criança,
desde sempre de sua existência.
Sorte minha :
ele retornou para os escritos

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Senhora Ansiedade

Senhora do agora , do já.

A ansiedade não acalma

desconhece a paz,

desequilibra o ambiente,

amaldiçoa os cérebros lentos

os passos calmos

um após outro...

Ela tem pressa, não permite histórias longas,

discursos prolixos.

ela atropela, é sem educação.

coloca as palavras na boca de quem inicia a frase

ou pior, termina a frase do outro.

anda e vai falando

ou fala e vai andando

briga com o tempo, instiga as decisões.

sem paciência, sofre de "dispnéia"

Não se senta num banco

para esperar a sua vez na fila

jogando conversa fora...

Ela nem conversa!

fica roendo as unhas,

balançando as pernas.

anda de um lado para outro,

resmunga,

mostra os dentes, tem arrepios, suores

empurra ou dá rasteiras

e sai correndo atrás do nada.

Sofre de dor de estômago,

coração acelerado,

engasgamento,

"peito apertado".

Não dá o braço a torcer

não chora nunca

É a rainha da cobrança.

Gosta da pergunta: Terminou?

tem olhos arregalados,

abomina o sono,

e vomita quando é pressionada.

Coitada,

não suporta pensar em si mesma.

A ansiedade morre de arritmia

ou entrestecida,

envelhece aos trinta.